30 de maio de 2015

Descobrindo a mediação #1

A vida é feita de venturas e desventuras, encontros e desencontros. E há descobertas que nos preenchem a alma e que soam àquilo que podemos chamar de missão. Pelo menos é a impressão que tenho tido desde que descobri a mediação. Há dois anos. A descoberta tem sido muito feliz e tenho cada vez mais vontade de conhecer mais e de contar a toda a gente os benefícios desta ferramenta de vida.

O que é a  mediação? Antes de mais, explico que é mediAção e não mediTAção, como muitos confundem. 


A mediação tem como principal característica o facto de ser um facilitador de comunicação. Recorre-se à mediação essencialmente em casos de conflito, onde o diálogo é um instrumento crucial para a resolução do problema. No entanto, como sabemos, durante uma situação de conflito não é fácil para as partes envolvidas  ultrapassar as suas diferenças e dar o primeiro passo em direcção ao diálogo. Na verdade, o dialogo é, nestas situações e na maior parte dos casos, a última coisa em que se pensa.

Durante a mediação o mediador tem a responsabilidade de criar condições para que o diálogo tenha lugar. No entanto, esse processo deve ser voluntário. Isto é, a mediação só acontece se as duas partes estiverem de acordo em avançar com o processo. Alguém terá de dar o primeiro passo e pedir apoio ao especialista.  Que posteriormente irá dar inicio ao processo começando por informar a outra parte da intenção manifestada de resolver o problema através da mediação. Vamos ver mais à frente que o factor voluntário (para mim) não é tão linear quanto isso. uma vez que existem mediações propostas (ou impostas emocionalmente) judicialmente. Porém, o carácter voluntário da mediação mantém-se e vou explicar num outro post como pode ser possível esta aparente ambiguidade.





O mediador dispõe de ferramentas que o permitem ajudar as pessoas a encontrar elas mesmas a solução para as suas diferenças. As duas ferramentas são a reformulação e o questionamento - talvez existam mais, ainda não sei :). É claro para todos que numa situação de ira, stress ou raiva somos incapazes de ouvir aquilo que nós próprios dizemos.  Sermos receptivos àquilo que o outro tem a dizer sem julgar ou formar ideias pré-concebidas é quase impossível. É neste ponto que a reformulação entra e começa a desfazer o novelo. É incrível como é diferente ouvir de outras pessoas aquilo que nós próprios dizemos. Se por um lado permite-nos explicar de melhor forma o nosso ponto de vista, por outro, a reformulação ajuda na conscientização do nosso verdadeiro ponto de vista. O que por vezes nos parece certo no final já não será tanto.

Quanto ao questionamento, ele é uma ferramenta tão importante quanto a reformulação. A meu ver os dois se complementam na medida em que uma pergunta pertinente e bem colocada fará com que as partes sejam levadas a fazer uma leitura, talvez, diferente daquela que têm feito até esse momento. Levará a que haja uma reflexão sobre determinado ponto e por conseguinte a parte  em questão, ou mesmo as duas partes, serão "obrigadas" a se questionarem sobre verdades que consideravam até este ponto inquestionáveis.

Estas ferramentas e a descoberta da própria mediação em si tem-me ajudado muito nas minhas vivências do dia-a-dia. Não reajo nem vejo as coisas da mesma forma.

A mediação familiar é aquela que mais me interpela. É incrível como em casos de divórcios os adultos (uma das partes ou por vezes mesmos as duas) só se vêem a eles próprios e acham que lutam pelos interesses da criança. Neste caso, dependendo do grau da "cegueira" provocada pelo conflito, as ferramentas acima descritas podem apresentar frutos mais ou menos rápido.


Espero nunca passar por isso, mas em caso de divorcio espero conseguir manter a cabeça no sítio e optar pela medição. Pois além de ajudar a resolver conflitos a medição também ajuda a preveni-los. Volto depois com mais coisas que tenho descoberto sobre esta maravilha que é a mediação. E o nosso mundo tem precisado tanto, não é?







14 de maio de 2015

Diz-me o que comes e digo o que serás

Uma grande parte da minha vida convivi com vegetarianos, apreciadores de comida vegetariana, pseudo-vegetarianos, curiosos e, no meio disto tudo, havia eu. Nunca disse nunca. Cheguei mesmo a experimentar alguns pratos macrobioticos na cantina "velha" da universidade de Lisboa. Tentei, mas a verdade é que não fiquei convencida. Intrigava-me como poderia alguém viver a comer palha (digo verdura)- esta era a minha ideia de ser-se vegetariano. E não tocar em carnes então era a gota de água. Refeição sem carne para mim era o mesmo que ir à praia e não ir à água (coisa que até já me tem acontecido devido ao estado acabado de sair do frigorífico da água por estas bandas da Europa). Carne era algo que não conseguia dispensar das minhas refeição. No entanto, desde que aconteceu esta minha segunda imigração começo a repensar este assunto. Tenho diminuido muito o número de refeições com carne (arrisco mesmo a dizer que só continuo a comer carne graças ao esposo que é um autêntico carnívoro). Não sei se é impressão minha ou mania das perseguições mas as carnes estão cada vez mais deslavadas. Tãaaaao sem sabor. Tãaaaaoo desgostosas, que chegam a enjoar. 

Não me quero impôr o vegetarismo nem ser radical. Quero ter uma vida saudável. Uma pele bonita. Cabelos viçosos.  E estou convencida que a alimentação joga aí um grande papel. O que comemos diz mais do que podemos imaginar daquilo que somos e seremos, no futuro. Estou convencida disso. Lembro-me dos meus avós e mesmo os meus pais contarem que em Cabo Verde, no tempo deles, não punham nem carne nem peixe na cachupa. A carne era um luxo e não havia dinheiro para luxos. São pessoas dessa geração que têm a melhor pele, a melhor saúde, os cabelos mais saudáveis e mais longividade. Acredito que seja graças à alimentação essencialmente à base de vegetais que eles duram tanto e vivem com muito mais saúde. Também, os tempos são outros, não é verdade? Nesse tempo, mesmo que comessem carne era menos grave que nos nossos tempos. Onde quase tudo o que comemos sai de laboratórios antes de passar pela terra até chegar aos nossos frigoríficos. 
Não sou contra comer carne, que até gosto, como já disse. O meu problema é mesmo a falta de confiança. E, por via das dúvidas, não comer (ou comer menos) parece-me ser a melhor opção.

Atenção, ainda como carne. Não estou cem por cento convertida a comedora de palha. Ainda como carne branca (quase exclusivamente) e mais legumes que o (meu) normal.

Posto isto, devo dizer que já estive mais longe de mudar para o lado dos herbívaros. Não aguento mais esta sensação de ter comido algo estragado depois das refeições. 
Deliciem-se com estas belas inspirações para as vossas refeições!

Peito de frango com frutas e cogumelos, encontrei Aqui
Fajitas vegetarianas, encontrei Aqui



6 de maio de 2015

A minha família tricolor

Começo esta nova aventura (o blogue) a falar daquilo que é a base da minha estabilidade enquanto mulher: a minha família. Venho de uma família numerosa e talvez por isso ter filhos, casar, ser dona de casa nunca fizeram parte dos meus planos. Via-me fácilmente sentada num avião a desbravar o planeta terra mas nunca a pilotar um fogão ou a mediar conflitos entre irmãos.
Ter de partilhar o meu closet (ou um mísero armario de três portas que seja) com um marmanjo foi durante muito tempo o  meu maior pesadelo.

Mas a vida cá está para trocar-nos as voltas, lançar os dados (viciados) e decidir por conta própria as direcções que vai tomando. Os nossos planos e sonhos parecem contar pouco - ou mesmo nada.

É graças às jogadas do chamado destino que me vejo, hoje, senhora dona de casa, casada, mãe e imigrante pela segunda vez. Quem diria?! E mãe?! O closet ainda é um armario de três portas; os conflitos entre irmãos ainda não acontecem mas tenho mediado uns quantos atritos entre o eu de ontem e a mulher de hoje. A alegria e o orgulho naquilo que tenho vindo a construir são indescutíveis, mas nem por isso deixo de questionar-me sobre o paradeiro da jovem que só conseguia imaginar uma família onde cabia apenas um membro: eu (e talvez um cão, desde que soubesse o caminho da rua nos momentos de extrema necessidade).

Os aviões de Portela deram-me um marido, com quem tenho partilhado muito mais que um armário. Temos descoberto juntos o que é isto de ter uma família criada por nós mesmos;  Com ele tenho vivido momentos intensos de descobertas a vários níveis. Dele recebi o maior de todos os presentes, um pequeno mini-eu.

No dia  28 de Agosto de 2012 soubemos o que realmente era viver com o coração fora do peito. De respirar e viver em prol de um ser que é só nosso e que resulta daquilo que somos. Numa mistura deliciosa e tons e sabores. A minha família é única como cada uma o é. Mas a minha família ainda é mais especial e diferente do que aquilo que eu (ou o esposo) pudémos alguma vez imaginar. Cá por casa vivemos uma vida tricolor. Cada um tem a sua. E juntos formamos um arco-iris de três tons que se conjugam na perfeição. 

A minha família é especial. Nela conjuga-se o ser humano em pelo menos três sub-tipos. Fala-se linguas multiplas, ouve-se músicas que nada tem a ver uma com a outra (depende de quem assume a posição de Dj), dança-se descompassado, come-se arroz com batata e é-se feliz assim mesmo, diferentemente. Apaixonadamente. Todos os dias. A minha família é tricolor e amamo-nos a triplicar.